Alguns dias atrás um programa de radiojornalismo divulgou notícia que mencionava a origem, a fonte da informação e deixava muito claro que se tratava de um relise do governo estadual. Esse fato chama a atenção e confirma a diferença que existe entre um jornalista profissional egresso dos cursos universitários de jornalismo e um falso jornalista, conforme reflexão publicada nesta página na quinta-feira da semana passada.
Os jornalistas que se qualificaram nos cursos universitários de jornalismo aprendem e desenvolvem processos de apuração da notícia. Sem dúvida que no cotidiano do trabalho jornalístico, a apuração é mal feita e há inúmeros problemas no texto da notícia. Mesmo assim, uma notícia produzida é muito diferente daquela “copiada” dos relises. Dezenas de jornais regionais simplesmente publicam a cópia do relise. É comum ler no jornais, nos ciberjornais, ouvir nos radiojornais e assistir nos telejornais uma notícia que é uma simples cópia do relise divulgado pelas assessorias de imprensa ou de comunicação das empresas e, principalmente, dos órgãos públicos.
É importante esclarecer que relise é uma nota, um texto produzido por jornalistas que trabalham em assessorias de imprensa ou de comunicação para divulgar determinados fatos, ações de uma empresa ou de governo. O relise tem como objetivo divulgar as atividades, ações de uma instituição de forma que promova aquela empresa ou entidade pública.
Pode-se enumerar diversos procedimentos que fazem a diferença entre um jornalista qualificado e um falso jornalista. Um deles é a técnica. Há uma técnica jornalística. A produção da notícia requer conhecimento dessas técnicas para que possa ser compreensível, contextualizar o fato, verificar as diferentes versões, checar o maior número de fontes possíveis. Também é necessário ao jornalista ter conhecimento da sociedade. Como assim? É preciso que o jornalista domine conhecimentos de sociologia, psicologia, filosofia, política, economia, entre os principais. É não é num “achismo” que um profissional de jornalismo vai divulgar informações dessas áreas sem compreender o singular e o conjunto das mesmas. Um exemplo simples dessa situação, ocorre quando uma mídia erra, grosseiramente, ao divulgar que Campo Grande é a capital de Mato Grosso. Ou como aconteceu recentemente quando uma emissora de TV dos Estados Unidos registrou, num mapa, a cidade de São Paulo no estado do Amazonas.
Responsabilidade. Um jornalista profissional que concluiu um curso universitário de jornalismo é responsabilizado pelo que divulga, pelo que noticia. Como qualquer profissional, o jornalista tem sua atividade regulamentada e orientada pelos Sindicato dos Jornalistas e pela Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj e assim é responsabilizado pelas, quando ocorrer, informações falsas que publicar, sob pena de processo na Comissão de Ética do Sindicato ou da Fenaj.
Um falso jornalista, comumente, busca autopromoção, por isso é comum a figura do apresentador de TV. De outro lado, o jornalista qualificado é aquele que trabalha nos “bastidores”, produz a informação que será divulgada sem ter seu nome expresso em “letreiros luminosos”. Até recentemente, o leitor pode pesquisar, as notícias publicadas em jornais e revistas não tinham assinatura do jornalista. Sem dúvida que a assinatura do jornalista é importante. Reconhece um trabalho bem feito e denuncia erros. Neste caso, a mudança realizada pelas empresas jornalísticas foi muito positiva. Valoriza o trabalho de autoria, garante os direitos autorais do jornalista.
Um falso jornalista, na maior parte das vezes, é um colador de notícias, o famoso Ctrl C + Ctrl V, em outras palavras se trata de plágio, raramente este falso jornalista publica o nome do autor do texto original ou faz qualquer citação de origem.
E por fim, a diferença essencial está na questão ética! A ética jornalística é própria, tem um estatuto definido. Há um trabalho árduo de professores para orientar os futuros jornalistas na consciência profissional, nos procedimentos adequados no exercício da profissão. No cotidiano dos jornalistas é que se encontram os pontos de tensão e a fronteira naquilo que é ético e no que se transforma em sensacionalismo, apologias ou mera busca de lucratividade, de um serviço público para um serviço privado.
Um jornalista qualificado nos cursos universitários de jornalismo respeita a sociedade, um falso jornalista tripudia.
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