Em recente artigo publicado pelo Observatório de Imprensa (
www.observatoriodaimprensa.com.br), o professor da
UFSC, Francisco Karam, faz uma interessante reflexão sobre o futuro do jornalismo no que diz respeito aos suportes. Cita que, apesar no progresso tecnológico, ainda se faz jornalismo conforme determinava os conceitos greco-romanos. A forma e o conteúdo está inerente às prerrogativas da estrutura do texto definido pelo pensamento grego. Dessa forma, Karam vaticina como se dá o processo de evolução do jornalismo. Diz ele, "hoje, os chamados jornais de referência tendem a se tornar online, dado que seu público predominante tem acesso à mídia digital. Os jornais populares tendem a permanecer no impresso – e por longo tempo isso deve durar – à medida que seu público, enquanto não for incluído no mundo digital – o que deve passar por um processo de alfabetização, escolarização e domínio tecnológico – continuará tendo a mídia impressa popular, além da tevê e do rádio, como preferencial". A afirmação comprova que, não obstante o aumento acentuado da audiência, o consumo dos ciberjornais ocorre entrem vou uma elite tecnologizada e os impressos ainda se produzem como há mais de 60 anos. A estrutura da noticia produzida em 2011 é a mesma utilizada quando Danton Jobim implantou, no país, no Diário Carioca em 1949, a escola norte-americana de jornalismo, com o lide, ou seja, o primeiro parágrafo da noticia e o formato da pirâmide invertida. Que novidade há em 62 anos?
Em parte se poderia dizer que os ciberjornais inovaram, implementaram novos recursos, mas a estrutura do texto, da notícia continua a mesma. A tecnologia não foi capaz de reorganizar, recriar as estruturas de textos. Em algumas tentativas se contou historias como se fazia antes da escola norte-americana, muitas notícias publicadas nos ciberjornais elegem um personagem - copia o rádio e a TV - ou possuem um grande "nariz de cera", como a estrutura de redação aprendida no ensino médio. Esse formato pode ser comprovado, (e se percebe todos os dias na internet), em recente avaliação de matérias submetidas a um prêmio de jornalismo nacional.
Embora haja alguma diferença entre o texto da notícia publicada nos grandes portais e aqueles produzidos nos centros regionais, não há, ainda, a exploração de todo potencial da internet, tampouco a adequação da linguagem. O que temos até hoje é uma transposição da linguagem do jornal impresso para a internet. E, definitivamente, são suportes, mídias diferentes. É o o que ocorre, por exemplo, com o recém publicado Diário Digital que nada mais do que as imagens das páginas de um jornal impresso, ou revista (esse periódico mais se assemelha a uma revista) publicadas na internet. Para o leitor comum é interessante ressalvar que o jornal impresso, depois de finalizada a edição, se constitui num grupo de páginas como uma imagem para ser levado à gráfica. No caso do Diário Digital a única diferença é que não é impresso, por razões obvias de custo, e sim veiculado na rede mundial de computadores.
Este meio, internet, como diz o professor Karam, ainda é de acesso restrito e de uma minoria elitizada. Os jornais veiculados na internet têm um acesso restrito, não atingem a maioria da população. Os verdadeiros jornais populares, no Brasil, são veiculados pela televisão. Os chamados jornais populares impressos, como diz Karam, se caracterizam pelo popularesco e se restringem a uma minoria, mais idosa, que preserva o hábito da leitura do jornal diário. O outro lado da leitura dos jornais impressos, não populares, está na elite intelectualizada, mas em muito menor quantidade. Para que a mídia internet possa se popularizar é necessário, para ratificar o que Karam ressalva, uma alfabetização tecnológica e, fundamentalmente, uma inclusão digital. Apesar das notícias sobre inúmeras políticas de inclusão, não há ações efetivas para realizar esses objetivos. Interesses mercantis das grandes multinacionais do setor de telefonia não permitem que o acesso à banda larga e ao mundo digital se dissemine. O acesso à internet no Brasil é caro, lento e muito precário. Não há interesse em mudar isso. As multinacionais telefônicas obtém lucros exorbitantes com muito pouco investimento. Não há concorrência, pois todas as empresas pertencem aos mesmo donos. Em outras palavras, o ciberjornalismo ainda é um produto de elite e de formato não definido, com muita confusão no uso dos recursos proporcionados pelo ambiente digital.
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