A produção científica no Brasil representada pelas pesquisas desenvolvidas nas universidades e em algumas empresas estatais se concretizam, na maioria das vezes, em artigos cientificos publicados em revistas ou apresentados nos congressos academicos. Nos últimos anos, uma política de apoio à produção científica desenvolvida, principalmente, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico – CNPq e Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CAPES, privilegiou a publicação dos resultados da pesquisa em revistas científicas, ou seja, se um pesquisador tiver seu artigo, o resultado de sua pesquisa publicada em revista terá maior mérito acadêmico e portanto será contemplado com mais verbas ou maior facilidade de obter financiamento para seus projetos. Os trabalhos apresentados em congressos acadêmicos não tem relevância. É importante ressalvar que a publicação nas revistas não permite aos cientistas, pesquisadores discutir com seus pares, colegas a evolução, os percalços, os acertos e os erros do seu trabalho. A apresentação de uma pesquisa nos congressos científicos promove o intercambio de forma mais eficiente.
Nos eventos científicos, famosos em todo mundo, é possível ao pesquisador discutir sua pesquisa, seu trabalho, receber feed-back imediato e, muitas vezes, equacionar qualquer dificuldade ou problema decorrentes do processo de experimentação ou de desenvolvimento do seu trabalho. A política de valorização do trabalho científico promove o enclausuramento do pesquisador. Se se trata de uma pesquisa teórica, em que o pesquisador está “fechado” em seu gabinete de estudos entre livros, livros e artigos, artigos e mais artigos essa situação piora. Que oportunidade tem de discutir com seus colegas se sua pesquisa está no caminho certo, se o seu trabalho científico poderá promover o desenvolvimento social. Em recente discussão para elaborar o projeto para implantação do programa de mestrado em comunicação na UFMS, os professores se depararam com esta situação. Terá valor acadêmico seu trabalho de pesquisador se tiver seus artigos, resultados de suas pesquisas, publicados nas revistas científicas. Ou seja, é mais importante produzir artigos do que publicar livros, por exemplo. “Um país se faz com homens e livros”. A frase de Monteiro Lobato perde o sentido, pois o importante é escrever e publicar artigos. E há uma contradição nessa política porque, muitas vezes, um livro nada mais é do que uma coletanea de artigos. Ou seja, depois de publicado o livro, o mesmo terá menos valor do que seus capítulos individualmente. Da mesma forma, a difusão dos livros, que no caso dos livros acadêmicos distribuídos, vendidos nos congressos científicos, fica comprometida, se não há mérito acadêmico apresentar, defender pesquisa nesses eventos, não há razão para participação nos mesmos.
Os encontros científicos estão fadados à falência. É mais rentável, academicamente, se enclausurar nos gabinetes de trabalhos nas universidades ou em casa produzindo os artigos do que sair para o debate com os colegas que pesquisam o mesmo tema, o mesmo assunto ou a mesma área. As tabelas de valoração do saber científico estão a enclausurar os pesquisadores. Nesse aspecto, e se pensar na sua carreira acadêmica, como cientista, os professores não se disporão a assumir funções burocráticas, administrativas. Elas lhes tomam o tempo e não permitem uma dedicação maior ao processo de pesquisa e de produção científica. As universidade estarão repletas de professores fechados em seus gabinetes ou, no caso das pesquisas empíricas, em todo seu tempo no trabalho de campo, nos ambientes de experimentação. Dessa forma, os riscos das pesquisas endógenas é muito maior, mesmo que para o bom pesquisador suas referências externas e multiplas sejam importantes, mas sempre estará no ambito de um diálogo consigo mesmo, sem poder discutir concretamente seus resultados parciais ou finais. É preciso rever esse modelo. O diálogo científico é o alimento que gera conhecimento, desenvolvimento e ele não pode ocorrer apenas nas bases conceituais difundidas pelos artigos em revistas científicas. É necessária a interlocução ao vivo e à cores e os encontros científicos são momentos privilegiados para isso, tanto pelo diálogo vertical, entre projetos da mesma área, quanto pela multiplicidade de perspectivas que uma pesquisa científica pode desenvolver, no diálogo horizontal.
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