O ensino universitário brasileiro é marcado para a qualificação profissional. Todos, senão a maioria dos estudantes que ingressam na universidade tem como objetivo a sua formação profissional, adquirir uma profissão. O modelo de ensino superior adotado aqui privilegia esse aspecto. Houve uma tentativa, a partir de 1968, em consequência inchaço dos antigos sistemas de vestibulares, de fornecer ensino profissional no ciclo médio. O modelo faliu, embora ainda exista inúmeras escolas que oferecem essa modalidade de ensino, em especial o sistema CEFET, hoje identificado pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Esse modelo, apesar dos esforços do governo federal não limita ou diminui a busca da formação universitária, até mesmo enquanto formação profissional.
Os cursos universitários se tornaram centros de formação profissional por excelência. Não deve e nem pode ficar nisso. Esse modelo, de qualificação profissional, não será alterada em curto ou médio prazo. E por isso se deve implementar políticas que associem a formação profissional ao desenvolvimento daquela profissão por meio, principalmente, da pesquisa e também da extensão. O curso universitário deve promover o desenvolvimento da sua área profissional. No caso do jornalismo, por exemplo, não deve apenas repassar, ensinar, orientar sobre as técnicas e contextos profissionais, mas deve orientar os estudantes para a pesquisa de novos formatos de jornalismo. É função da universidade promover o desenvolvimento das atividades sociais e profissionais. Ainda no exemplo do jornalismo, o formato como são produzidas as notícias - lide, pirâmide invertida - remonta os anos 50 no Brasil, mais antigo nos Estados Unidos, de onde foi importado. E é esse formato utilizado até hoje. O que os cursos de Jornalismo fizeram em mais de 50 anos para melhorar essa forma de jornalismo? No jornalismo, assim como em outras áreas profissionais, qual a contribuição das universidades para o desenvolvimento da sociedade por meio do jornalismo, neste caso?
Como mencionado em outro artigo – O desenvolvimento da pesquisa em Mato Grosso do Sul - a pesquisa e o desenvolvimento científico neste país só ocorrem no âmbito das universidades, e se as universidades não produzem, não respondem à demanda da sociedade, o quadro do desenvolvimento social, econômico e político do país está falido, condenado. Passou da hora para que as autoridades governamentais, políticas acordarem para isso. Sinal alentador desse fato ocorreu na semana passada quando um grupo, entre deputados e senadores do estado, finalmente assumiram a causa da UFMS. Infelizmente, foi preciso que a reitora da instituição provocasse a ação. Será que nossos deputados e senadores não compreendem a importância da universidades para o desenvolvimento social? Será que nem mesmo os filhos desses parlamentares merecem escola pública de qualidade, ou eles vão estudar na Europa?
O ensino universitário ainda tem um outro angulo de perspectiva quando se trata das instituições privadas. A maioria, felizmente não todas, oferecem ensino profissionalizante. Não desenvolvem pesquisa, não promovem o desenvolvimento das áreas profissionais nas quais oferecem cursos. O estudante ingressa, realiza seus estudos de formação profissional e obtém o tão desejado diploma profissional. Que diferença há com o ensino profissionalizante de nível médio? Pode-se argumentar que os estudos universitários são mais aprofundados! E está correto, mas isso contribui de forma decisiva, efetiva para a melhorias das áreas profissionais em que atuam? Os reitores dessas universidades podem afirmar com tranquilidade que desenvolvem todas as áreas profissionais nas quais sua instituição atua? Poderão afirmar que promovem esse desenvolvimento em alguns cursos, mas não em todos. E por que? Porque não se desenvolve pesquisa.
Será necessário recordar que a pesquisa, além de ser desenvolvida apenas nas universidades, são produzidas pelos professores com doutorado. O próprio sistema de concessão de bolsas de pesquisa, atende somente essa categoria, muito embora professores com mestrado também produzem pesquisa e foram preparados para isso. Interessante destacar o crescimento das pesquisas de iniciação cientifica, muitas com o apoio financeiro das agências de fomento e, no entanto, pesquisadores com mestrado estão impedidos de pleitear bolsas para seus trabalhos.
O investimento público e, principalmente, o privado precisa entender esses aspectos e investir mais nas universidades. Os representantes políticos precisam se conscientizar que o desenvolvimento social acontece, de forma sustentada e perene, com a melhoria do ensino superior. Será que seria sonhar muito se pensar que as empresas jornalísticas locais destinassem parte de seus lucros para investir nos cursos de jornalismo? Afinal, os egressos desses cursos é que formarão sua base para o retorno empresarial e para, mesmo, a melhoria da atividade que exploram.
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