Na sociedade contemporânea não há que se discutir ou colocar em dúvida a importância do jornalismo, da atividade jornalística e do profissional do jornalismo. Uma área profissional de suma importância para a consolidação democrática, tão estratégica não pode ficar a mercê das idas e vindas político-partidárias, nem tampouco dos humores empresariais. Deve estar acima de tudo isso. Nesse aspecto, em se tratar da qualificação dos profissionais da área, não há que se brincar, tampouco relegar a segundo plano. A informação é um bem precioso na sociedade atual.
Por meio dela se conhece o mundo, se gerencia suas atividades, sua vida. Pode-se brincar com isso? Nesta data o Supremo Tribunal Federal poderá sepultar definitivamente a qualificação do profissional jornalista. Na pauta dos trabalhos do STF está a necessidade ou não da formação universitária específica para o exercício profissional em jornalismo. A pergunta clássica é: você leitor faria um cirurgia com um médico prático?
Você entregaria o destino de seu patrimônio para práticos do direito? Será que as pessoas morariam em casas ou apartamentos construídos por engenheiros da prática, profissionais que aprenderam seu ofício apenas na prática, na experiência? Assim como o médico, o advogado, o engenheiro e tantos outros profissionais indispensáveis na vida das pessoas, e que sempre buscam profissionais qualificados, preferencialmente formados nas melhores escolas; da mesma forma o jornalista, profissional estratégico na sociedade atual, deve estar qualificado e qualificado nas melhores escolas, nos melhores cursos de jornalismo.
Se o STF derrubar a exigência do ensino universitário específico em jornalismo para o exercício profissional é exatamente isso que irá acontecer, ou seja, uma invasão de charlatões da informação que buscam, exclusivamente, proveito e ganhos pessoais não importa a que preço, ou melhor, importa sim, a preços muito altos; que o digam as assessorias de comunicação dos governos, assediados diuturnamente por vários desses pseudos-jornalistas. A argumentação para se extinguir a exigência da formação universitária específica em jornalismo é que está garantido pela Constituição Federal de 1988 o direito à informação, logo qualquer pessoa pode ser jornalista, pois o jornalista transmite informação.
Parece que há um erro grasso de entendimento dessa condição. Nenhum jornalista transmite informação. Pode-se dizer, nenhum jornalista é “fofoqueiro”! Um jornalista qualificado, que possui formação universitária específica produz informação. O processo de trabalho do jornalista não é transmissão, mas produção da informação. Para entender isso é básico afirmar que o jornalista pauta, apura, redigi, edita, publica, difunde as notícias, a informação. Isso se chama produção.
Recentemente ao ler, ou melhor, ao ver uma revista local se constatou que uma notícia sobre os 10 anos de ciberjornalismo em Campo Grande foi exatamente um recorta e cola, o famoso contra C e contra V dos computadores, de matéria publicada em portal jornalístico local. E o que é pior, sem ao menos dar crédito à jornalista que produziu o texto. Isso é ético? Isso é jornalismo? Há produção jornalística nessa matéria, ou simplesmente uma transmissão de informação, do tipo “fofoca da vizinha”. E nem isso pode ser, pois as “fofocas” são, na maioria das vezes, “produzidas”, aumentadas um pouco. Um pesquisador paranaense em reflexão sobre este tema, fez uma interessantes e engraçada comparação, diz ele que “se a formação universitária específica (diploma) cair, poderemos entrar com uma ação pedindo que seja proibido às empresas de transporte de passageiros a cobrança pelas passagens, pois isso contraria o direito de ir e vir definido na Constituição”.
Em outras palavras, a necessidade, a exigência da formação universitária específica para o exercício profissional em jornalismo não impede a livre manifestação das pessoas, o livre acesso à informação e a livre iniciativa de transmitir informação. No entanto, no que diz respeito a produção a informação, seu tratamento, a apuração, checar dados, redigir, editar para uma melhor compreensibilidade e a difusão, isso é papel do jornalista, profissional formado no curso universitário de jornalismo, onde deverá aprender técnicas, teorias, princípios e processos da produção jornalística, e somado a tudo isso conceitos e procedimentos éticos para que a produção da notícia – depois de processada a informação se transforma em notícia – não se torne fator de constrangimento pessoal, social ou político.
E que a produção da notícia possa atuar de forma a promover o bem social, o desenvolvimento das sociedades e a integração dos povos. Não é a toa que o Ministério da Educação elegeu recentemente, depois do direito e da medicina, o jornalismo como foco para consolidação democrática do país ao constituir a Comissão que vai reformular as diretrizes curriculares dos cursos universitários de jornalismo. Em cada um dos leitores deste texto cabe, neste dia, ter esperança – como sempre – no juízo dos ministros do STF e que estejam conscientes da importância do jornalismo para a sociedade e, consequentemente, da formação universitária específica para o exercício profissional.
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