Sim. Excepcionalmente neste artigo vou tratar o tema de forma pessoal, opinativa e no uso da primeira pessoa do singular. Escrevo esta coluna há pouco mais de dois meses. Neste curto espaço de tempo, tem sido gratificante o trabalho. Há muitos anos publico, circunstancialmente, artigos no Correio do Estado. Tentei por diversas ocasiões ter um espaço fixo, uma data definida. A politica editorial do Correio do Estado não permite essa situação. Não critico, essa é uma opção editorial a que todos os diretores de jornais têm o direito de estabelecer. Se há muita demanda de artigos, é importante dar oportunidade às pessoas de opinarem e de se manifestarem nas páginas dos jornais, o que comprova um erro crasso da sentença do ex-presidente do STF, Gilmar Mendes.
O fato de ter uma data e um espaço fixo no jornal, o que transforma seu papel eventual num colunista, é muito positivo, pois te obriga a escrever todas as semanas, a refletir sobre um tema de interesse do público todas as terças-feiras, dia que fecho meu texto. Tenho que entregar no jornal na quarta. O espaço eventual, como havia no Correio do Estado, e como em qualquer situação, te relaxa, ou seja, se der para escrever, eu escrevo, se não der, fica para outro dia. Assim como os jornalistas que trabalham nas redações têm um horário para fechar suas reportagens, para fechar, concluir a edição do jornal, que denominamos dead-line (linha da morte), como colunista estou obrigado a este mesmo procedimento, embora não diário.
Este exercício de construir, a cada semana, uma reflexão sobre os diversos temas que tocam o nosso jornalismo contemporâneo é sempre um desafio, uma responsabilidade. Neste exercício, inúmeras vezes, pesquisamos dados, números, estatísticas, arquivos e tantos outros documentos que possam respaldar a reflexão a ser construída, a ser publicada. O trabalho de pesquisa, chamada de pesquisa jornalística que difere essencialmente da pesquisa acadêmica ou da pesquisa de mercado, se realiza com base em informações e conhecimento nas mais diversas áreas correlatas à reflexão em curso, seja na sociologia, na economia, no direito, na psicologia, enfim, em muitas áreas do conhecimento que requerem uma base sólida das ciências. Como pode ver, mesmo para escrever um texto de 4500 caracteres , um texto opinativo, não é tão simples assim.
De outro lado, o trabalho de produção jornalística diário é tão ou mais complexo do que este exercício semanal. Requer do jornalista, ou melhor, do repórter a aplicação dos conhecimentos que adquiriu no período da formação universitária em jornalismo. Para que todos saibam, o jornalista profissional diplomado, ou seja, aquele que fez o curso universitário de jornalismo aprende sociologia, psicologia, filosofia, economia, semiótica, fotografia, artes, estética, ética, as mais diversas teorias da comunicação e do jornalismo.
O jornalista profissional precisa estar preparado para exercer a profissão da forma mais qualificada possível. Para escrever, produzir uma notícia é preciso que aplique todo o conhecimento científico, todo o conhecimento da sociedade. Costumo sempre afirmar aos estudantes de jornalismo que, se algum deles deseja simplesmente aprender técnicas de jornalismo, não é necessário fazer um curso universitário de jornalismo. Inúmeras instituição de alta qualidade e respeitabilidade oferecem cursos de técnicas em jornalismo. Até mesmo um estudante de ensino médio pode aprender essas técnicas.
Ser jornalista, exercer essa profissão é muito mais do que técnica, é preciso muito conhecimento científico. Esta é, sem dúvida, uma das profissões mais complexas e importantes para a sociedade. O Ministério da Educação recentemente escolheu, não por acaso, o direito, a medicina e o jornalismo para fazer uma ampla reforma das diretrizes curriculares como base para a consolidação democrática do Brasil. Com tudo isso, a partir deste artigo começo a assina a coluna como “jornalista profissional diplomado”.
Essa identificação se faz necessária em consequência de que muitos se autoproclamam e assinam como jornalistas sem passarem pelo menos um dia numa faculdade de jornalismo. Sem essa identificação, apesar da qualificação “professor”, minha identidade pode ser confundida com um colega de artigo à direita com a mesma identificação. E em defesa da formação universitária em jornalismo, não poderia deixar isso ocorrer. É preciso que a sociedade saiba diferenciar e compreender o que significa quando um “jornalista” realizou estudos superiores universitários daqueles que, por terem uma facilidade para escrever, se autodenominam “jornalistas”.
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