Um assunto me chamou a atenção na última semana e por isso, novamente, escrevo este artigo de forma mais pessoal. Há uma conivência imoral entre a concessionária que administra as rodovias no Paraná e a imprensa local. A situação das estradas pedagiadas no Paraná é um verdadeiro absurdo. E me desculpe o leitor, pois utilizarei adjetivos neste texto. Assim, se não for do seu interesse este assunto, poderá cessar a leitura aqui.
E não é possível comparar as rodovias paranaenses com as paulistas. No estado de São Paulo, a ligação rodoviária entre a capital e as principais cidades do estado se faz por meio de estradas duplicadas, conservadas, com excelente sinalização, monitoradas para a segurança do usuário. No Paraná é uma vergonha. Há mais de 14 anos as rodovias paranaenses foram privatizadas naquilo que se denominou de anel de integração estadual. Foram privatizadas as rodovias que ligam Curitiba a Londrina, Maringá a Curitiba, Foz do Iguaçu a Curitiba e, para fechar o anel a ligação a rodovia entre Cascavel e Maringá, além da estrada que liga Curitiba e Paranaguá. A privatização foi condicionada, pelo menos foi o divulgado na época, à duplicação dos trechos a serem explorados. A rodovia entre Curitiba e Cascavel é uma verdadeira “estrada da morte pedagiada”. Lamentável. Há dois anos escrevi um artigo sobre as condições dessa estrada e encaminhei aos jornais de Ponta Grossa e Curitiba. Embora considerassem um bom texto, nenhum jornal publicou. Havia e há interesses comuns entre as empresas jornalísticas e a concessionária que explora as rodovias. Outro fato, no início da privatização haviam pelo menos seis empresas que exploravam as concessões. Hoje existe apenas uma, a CCR, a mesma empresa que explora rodovias em vários outros estados, como a ponte Rio-Niterói, a Via Dutra, a rodovia dos Bandeirantes, o anel rodoviário da capital paulista, entre outras. As concessionárias embora mantenham as denominações originais, são administradas pelos consórcios que tem a CCR como principal dirigente.
No caso do Paraná, nenhum investimento compromissado foi realizado. No trecho que liga Londrina a Curitiba foram realizados melhorias no trecho de serra e em alguns pontos a opção de terceira faixa. A duplicação total da estrada, somente em sonhos. No resto, a empresa arrecada milhões sem aplicação no conforto e segurança do usuário. Nos períodos mais críticos do ano, como nos meses de dezembro e janeiro, pedágios ficam abarrotados, formam-se filas imensas nas praças de pedágio e há um risco alto no nível de segurança dos usuários. Em outras palavras, o usuário não recebe 10% de retorno no que ele paga em cada praça de pedágio. Toda e qualquer reclamação dos usuários resulta em nenhum resultado. A concessionária realiza somente obras de estética e de manutenção, nada que contribua concretamente para o conforto e segurança dos motoristas e suas famílias. Viajar pelas rodovias do Paraná nos meses de dezembro e janeiro é um desafio, um risco constante e um atentado contra a vida da população. Neste período é comum, dado a um erro grosseiro de gerenciamento, um congestionamento de veículos no trecho que atravessa a cidade de Campo Largo. A estrada corta a cidade ao meio e não há qualquer obra que melhore as condições dos motoristas e da população da cidade, que se vê obrigada e esperar horas e horas para poder atravessar a rodovia. Um risco constante para motoristas e pedestres. O trecho que vai de Cascavel a Laranjeiras do Sul é um verdadeiro atentado à vida humana. Forte curvas, estrada em pista simples colocam, a cada segundo, vidas humanas em risco.
Apesar de toda essa situação, nos 365 dias do ano, nenhuma notícia relata os problemas das rodovias. A única publicação sobre as estradas que encontra nos jornais do Paraná, inclusive na Gazeta do Povo, hoje o maior jornal do estado, é publicidade. As páginas dos jornais paranaenses estão inundadas de publicidade da empresa concessionária, em todos os dias do ano.
Há alguns anos o governo do Paraná tentou retomar a administração das rodovias, muitos usuários fizeram piquetes nas praças de pedágio, mas até o governador do Paraná não teve poder suficiente para atender as reclamações da população. As empresas concessionárias conseguiram manter as altas tarifas e um plano de trabalho que está restrito à conservação das rodovias. Hoje as estradas paranaenses têm as maiores tarifas de pedágio no Brasil. Infelizmente os paranaenses e os usuários em geral terão que conviver com essa situação por mais 10 anos. Os contratos firmados em 1996 concederam 24 anos de exploração das rodovias, sem controle estatal. O artigo em referência acima pode ser lido no endereço:
www.gersonmartins.jor.br/index.php?pg=16&it=616.
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