O ministério da Educação publicou no último dia 13 de fevereiro Portaria da Secretaria de Educação Superior (SESu) que designou a formação da Comissão que vai trabalhar na reformulação das diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo.
Participam da Comissão, que é presidida pelo Dr. José Marques de Melo, Alfredo Vizeu (UFPE), Luiz Motta (UnB), Sônia Virgínia Moreira (UERJ), Manuel Chaparro (USP), Sérgio Mattos (UFBA), Eduardo Meditsch (UFSC) e Lúcia Araújo (Canal Futura). Todos os membros da Comissão são doutores, jornalistas, pesquisadores e professores nos cursos de Jornalismo, exceção de Lúcia Araújo.
A Comissão funcionará durante 180 dias e se reuniu pela primeira vez no dia 19 último. De acordo com o Dr. José Marques de Melo, um dos consensos do grupo é formar jornalistas multimídia. Ele afirmou “queremos um trânsito maior entre a academia e profissionais de mercado para atender às novas exigências do século 21”. Marques de Melo fala na formação de um profissional com “competências mínimas”, que tenha habilidades nas mais diversas plataformas: impresso, TV, rádio e Internet.
Destacou ainda que “o currículo em si é uma identidade de cada universidade”, ou seja, ele pode ser moldado para atender as especificidades regionais, mas sempre com referência às Diretrizes Curriculares Nacionais, pois num processo de avaliação do curso, essas diretrizes é que serão levadas em consideração pela comissão avaliadora.
O professor falou também da importância de o jornalismo ser tornar um curso autônomo, independente do guarda-chuva da Comunicação Social. Enfatizou que “voltaremos às origens dos cursos de jornalismo criados nos Estados Unidos. Entender o jornalismo como um curso de Comunicação Social é um equívoco histórico”.
A vantagem em desvincular o jornalismo do curso de Comunicação Social, explica Marques de Melo, é voltar o curso às “competências mínimas” dos estudantes. O pensamento do presidente da Comissão está em acordo com o entendimento da secretária de Educação Superior do MEC, Maria Paula Dallari Bucci, que comentou que as diretrizes em vigor abrangem toda a área de comunicação social e são pouco específicas para a formação em jornalismo. Essa situação, de cursos com tronco comum, as mesmas disciplinas serem ministradas para alunos de Jornalismo, publicidade/propaganda e outros cursos, em turmas comuns resulta na perda de identidade da formação e consequentemente da qualidade do curso.
Os estudantes podem e devem questionar a instituição de ensino superior que infligir essa situação em seu curso. Segundo o jornalista, professor e pesquisador Rogério Christofoletti, “a comissão de notáveis pode reparar equívocos como a esquizofrenia do documento das diretrizes atuais. Ao propor um documento voltado para o Jornalismo, certamente a comissão vai desencadear movimentos semelhantes nos demais campos assemelhados que compõem o amplo espectro da Comunicação. Assim, se publicitários estiverem bem articulados e suficientemente organizados, eles também poderão trabalhar por Diretrizes Curriculares mais afinadas com os objetivos e especificidades de sua profissão”.
Mais do que criticar a proposta de autonomização do Jornalismo da comunicação, cabe aos profissionais das outras áreas profissionais se organizarem. Destacou ainda Christofoletti em seu texto, publicado no blog Monitorando, que “a elaboração de um documento próprio para o Jornalismo tende a reforçar a luta de diversos segmentos da academia que batalham por uma maior valorização e autonomia do campo entre as áreas de conhecimento.
Essa luta vem se dando ultimamente na defesa de uma especificidade do Jornalismo na Tabela de Áreas de Conhecimento do CNPq, na proposição de cursos de graduação e pós em Jornalismo - veja o caso da UFSC - e na tentativa de fixação de uma prova exclusiva para o Jornalismo no Enade”, fato este que deve ser retomado neste ano quando o INEP/MEC convocar novamente a Comissão Assessora para elaborar as diretrizes da prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) 2009. Interessante lembrar que, em 2009, os cursos da área de comunicação, turmas de primeiro e último ano, farão Enade, e com uma novidade, não haverá mais sorteio dos participantes.
Todos os alunos nessa fase farão a prova. Com a criação dessa comissão e seu objetivo, o MEC sinaliza claramente que as Instituições de Ensino Superior (IES) devem adequar seus cursos para atender as novas diretrizes curriculares a serem implantadas até o final deste ano. Sintomaticamente, a prova do Enade deverá ser elaborada na mesma perspectiva. Teremos então prova específica para os estudantes de Jornalismo.
E não mais como em 2006 que a prova foi a mesma para todos os alunos da área de comunicação, ou seja, Jornalismo, publicidade, relações públicas, rádio e TV, editoração, cinema e outros. Importante mencionar que as diretrizes curriculares orientam as instituições de educação superior no processo de formulação do projeto pedagógico de um curso de graduação. As diretrizes do curso de jornalismo foram estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2001. Tendo em vista o desenvolvimento da atividade jornalística e das tecnologias de produção jornalística, essas diretrizes estão completamente defasadas.
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