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O movimento estudantil entre avanços e retrocessos

Opinião | Domingo, 14 de Novembro de 2010 - 14h43 | Autor: Gerson Luiz Martins
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Na última semana aconteceu as eleições para do Diretório Central dos Estudantes da UFMS. Como sempre e tradicionalmente, mesmo que os participantes do processo não gostem muito desse adjetivo, o processo transcorreu entre discussões, debates e acusações de todos os lados. Essa situação faz lembrar o livro de Zuenir Ventura, “1968 o ano que não terminou”, onde ele apresenta aos leitores a consciência política e a luta da classe estudantil por democracia, liberdade e desenvolvimento social. Durante alguns anos esse foi o referencial do movimento estudantil no país. O estudante universitário sempre teve uma consciência crítica, um espírito de análise concernente à essa fase da vida das pessoas, quando se faz severas reflexões sobre a sociedade, o cotidiano e as ferramentas de trabalho, baseados em estudos da filosofia, da sociologia, antropologia, entre outras áreas.

Nos últimos 20 anos o movimento estudantil encolheu, o fim do regime militar e o histórico impeachment do ex-presidente Collor de Melo apaziguou os ânimos dos estudantes universitários. No governo FHC, apesar de uma privatização acelerada dos serviços públicos, assim como no governo Lula, as causas estudantis amorteceram, principalmente devido a oferta substancial de vagas no ensino superior e, na política de FHC, por meio da privatização do ensino superior, mesmo com o pagamento das mensalidades. Esse contingente estudantil nas instituições de ensino superior privadas forçou a classe na busca de subsistência para manter suas mensalidades. Houve ainda um reforço no ensino superior noturno, consequentemente, que orientou, passivamente, os estudantes na busca de oportunidades de trabalho. Essa realidade também se fez e faz sentir na definição profissional, os estudantes entram prematuramente na atividade laboral, principalmente se se trata de sua área profissional, realizada pelos estágios. A universidade sem estudantes em tempo de pesquisa e extensão promoveu o definhamento da política estudantil.

O crescimento econômico gerou busca pelo emprego, pela melhoria das condições de vida econômica. Esse crescimento, principalmente nos anos do governo Lula, proporcionou acesso aos bens de consumo o que também provocou uma calmaria no ambiente universitário. Os estudantes não têm mais tempo para fazer política, necessitam garantir sua sobrevivência e buscar, com a qualificação dos estudos, melhores oportunidades de trabalho. Para isso também contribuiu o avanço tecnológico. Por mais contraditório que possa parecer, o acesso a multifacetada informação também provocou um assentamento técnico, tecnológico e social. O tempo que se passa na internet é dedicado ao lazer, em primeiro lugar, ao estudo em segundo, não sobra mais tempo para o debate político, em qualquer esfera e em qualquer nível.

De outro lado, as escassas manifestações ocorreram nas instituições públicas contra a classe administrativa e docente, que, junto com os estudantes, são lados da mesma classe trabalhadora. A falta de conhecimento e experiência no processo político reivindicatório colocou, muitas vezes, forças irmãs em lados opostos. Isso enfraqueceu decisivamente o movimento estudantil, pois se processou contraditoriamente ao que a história e a experiência mostram nos anos de efervescência da política estudantil. É interessante lembrar as manifestações do Largo do São Francisco nos anos 60 e 70. Nesse momento eram os estudantes, professores, técnicos e até mesmo diretores contra a força política estabelecida em prol da qualidade do ensino e da liberdade de expressão.

Dos anos 90 para cá, se pode considerar um período de retrocesso do movimento estudantil. As “brigas” foram internas, raramente pela melhoria de infraestrutura, mas guiadas pelas paixões, revanchismos e manipulações de pseudo-líderes, além das divisões políticas no interior das universidades.

Matéria publicada pelo portal Universia trata da contemporaneidade do movimento estudantil e afirma que “hoje, com as mudanças no cenário político-econômico nacional, muitos dos ideais originais do movimento estudantil se perderam e a maioria dos estudantes parece "aprisionada" dentro de um sistema que não prioriza o coletivo”. No entanto, destaca que muitos jovens com espírito criativo, focado na qualificação social, profissional e acadêmica ainda se sentem incomodados com muitas precariedades do ensino superior no país, principalmente a distancia entre o discurso oficial e a prática de investimentos na educação superior. Educação não é um bem privado, é um bem público e, portanto, deve ser proporcionada e priorizada pelo estado. Os investimentos realizados nos últimos dois anos nas instituições federais de ensino superior ainda podem ser consideradas incipientes diante da necessidade e da importância da educação pública. Nesse contexto, o movimento estudantil deve se fortalecer e somar para que se garanta o mínimo constitucional de recursos públicos para a educação.


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