Numa passagem pelos portais jornalísticos locais se pode perceber o poder que tem as assessorias de imprensa das principais empresas ou instituições públicas. O que acontece? Há um processo exacerbado de copiar e colar, ou seja, na linguagem dos processadores de texto: contra C e contra V. Aquilo que se lê nos portais de notícias das instituições, vai ser repetido nos portais jornalísticos, nos ciberjornais, sem qualquer critério, sem apuração das informações, sem checar a veracidade.
Até mesmo os erros gramaticais e ortográficos das notícias veiculadas nas páginas institucionais são repetidos nos ciberjornais.
Não há como não se fazer uma reflexão “e se as informações publicadas no portal institucional não for verdadeira? E se não há publicidade por trás de uma notícia aparentemente de utilidade pública?” O hábito de muitos jornais impressos e ciberjornais de copiar notícias das assessorias de imprensa não é recente e tampouco é um privilégio local, esse fato é um dos problemas mais sérios no jornalismo que afeta a credibilidade do jornal e impõe restrições e precariedade ao exercício profissional do jornalismo. Para copiar e colar uma notícia, não é necessário a formação universitária em jornalismo. Copiar e colar pode ser facilmente realizado por um adolescente de 12 anos.
Os editores poderão justificar tal atitude e dizer que esse processo é realizado somente a partir das instituições que tenham notória credibilidade. E aí se pode questionar, e se o assessor de imprensa cometeu algum deslize? E se o texto publicado não passou pela revisão final e foi produzido por um redator, até mesmo por um estagiário da assessoria? É dever de todo jornalista apurar as informações, checar a veracidade, desde o fatos mais significativos que envolvem procedimentos éticos, até mesmo fatos mais corriqueiros como a oferta de vagas em vestibular.
A credibilidade e a confiança depositada pelo leitor aos jornais, ciberjornais, telejornais, radiojornais merecem respeito e dever ético. Todos os editores, diretores de redação sabem que o maior patrimônio de um jornal é sua credibilidade. Conquistar esse patrimônio não acontece do “dia para noite” e tampouco por meio de notícias fúteis, sem importância social.
Devido ao procedimento de copiar e publicar os chamados “relises” na íntegra pode-se considerar o poder que tem as assessorias de imprensa. Muitos jornalistas de assessoria têm conhecimento que certas notícias são copiadas sem uma leitura completa, ou seja, o editor avalia o “lide” – o primeiro parágrafo da notícia – e libera a publicação. De forma muito consciente, algumas assessorias de imprensa têm produzido notícias mais técnicas ou sem todos os dados da informação. Esse procedimento é uma tentativa de fazer que com o editor dos jornais faça um mínimo de apuração das informações. Se publicar a notícia tal como está no portal institucional, vai prejudicar a compreensão do público leitor.
E se, de outro lado, essa assessoria de imprensa não tive a mesma consciência poderá induzir o leitor ao erro, às inverdades ou a publicidade de suas ações. Ou seja, uma assessoria de imprensa pode mudar o rumo dos fatos, poderá levar o leitor a conhecer somente aquilo que interessa à instituição, mostrar apenas o lado bom, para a instituição, dos fatos.
Não obstante o copiar e colar dos relises, muitos assessores de imprensa reclamam que quando recebem contato dos jornalistas de redação, há pedidos para ditar a matéria pronta, não basta as indicações de fontes e alguns dados, exige-se matéria pronta; fato corriqueiro quando se trata de redação de telejornal na iminência do fechamento da edição e muitas vezes protagonizado por estagiários com receio de serem dispensados ou marginalizados.
Por esse e tantos outros aspectos é de se ficar aluído com o poder que tem as assessorias de imprensa numa realidade de jornalismo regional. Essa situação denota um outro aspecto, profissional, que tem fragilizado a produção jornalística. Apesar do grande número de profissionais egressos dos cursos de Jornalismo, as redações trabalham com número reduzido de jornalistas profissionais, há um uso exacerbado de estagiários, os quais, em algumas vezes, simplesmente por ingressarem num curso de jornalismo estão automaticamente qualificados! O estagiário em jornalismo que mal ingressou no curso será um “estagiário”, na acepção adequada do termo, ou será um “office-boy” qualificado? Esse será outro tema foco de novo artigo nas próximas semanas.
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