No contexto do debate sobre a criação do Conselho Federal dos Jornalistas, muitos aspectos sobressaem, um deles trata da qualidade e estrutura dos Cursos de Jornalismo, que “produzem” os novos profissionais para o mercado jornalístico. A primeira observação que se faz da qualificação dos Cursos não é animadora. De um lado há cursos com excelente infra-estrutura, mas que tem deficiências no projeto pedagógico e de outro lado, cursos com projeto pedagógico articulado que produz atividades de extensão, desenvolve pesquisas e proporcionam laboratório para sua comunidade estudantil. E laboratório aqui não se traduz em equipamentos, infra-estrutura, mas atividades laboratoriais que, por mais inusitado que possa parecer, conseguem desenvolver produtos jornalísticos em condições ínfimas de estrutura. É importante destacar que os Cursos de Jornalismo exigem uma boa estrutura de laboratórios para suas atividades. Esses laboratórios são as condições mínimas que o MEC preconiza para autorização ou reconhecimentos dos cursos. Fazem parte da estrutura laboratorial de qualquer instituição de ensino superior para Cursos de Jornalismo: Laboratório de Redação, Rádio, TV, e ainda Laboratório de Produção Gráfica. Essas condições são consideradas básicas para o bom funcionamento de um Curso de Jornalismo.
A oferta de vagas em Cursos de Jornalismo cresceu muito nos últimos anos. Atualmente há quatro cursos em Campo Grande, um em Dourados e outro em Três Lagoas. As condições de cada um são as mais diversas possíveis. É importante destacar que o entendimento de projeto pedagógico não diz respeito somente ao projeto político-pedagógico que cada curso possui e deve se pautar, mas a toda organização docente e bibliográfica.
No contexto geral há pouco relacionamento entre os cursos. São ilhas fechadas em suas ações e contextos. Algumas poucas iniciativas, por meio de eventos, são momentos de precário relacionamento. Questões cruciais que jornalistas de todo o país vivenciam no processo para qualificar sua atividade e obter melhor reconhecimento pessoal, profissional e econômico, estão fora da pauta e até mesmo da agenda dos cursos e consequentemente dos seus alunos. Exemplo dessa realidade se dá no debate e no entendimento que os estudantes de jornalismo têm sobre o Conselho Federal dos Jornalistas. Qual o senso crítico sobre a questão? Qual a diferença entre o “leitor” comum dos meios de comunicação e um estudante de jornalismo? Todos consomem a mensagem da indústria midiática da mesma forma?
Não bastasse essa situação, há uma outra grave: mercado de trabalho. E essa não é exclusividade local. Local ou não, o que os cursos fazem para mudar a realidade presente? Ou o que interessa é apenas jogar no mercado o contingente de profissionais egressos dos cursos para receberem novos? Hoje existem algumas boas iniciativas que buscam a integração com o mercado de trabalho, embora incipientes. De outro lado, um espaço que em tese seria privilegiado para a prática acadêmica, a mídia televisiva universitária na TV a Cabo, se transformou em espaços de propaganda das instituições, com estrutura profissional. A prática do estágio em jornalismo é uma balela. Não segue as recomendações das comissões de especialistas do MEC e da Federação Nacional dos Jornalistas. Com bem relata a diretora da Fenaj e professora da UFSC, jornalista Valci Zuculoto, “o estágio em jornalismo deve constituir uma prática didático-pedagógica do ensino de jornalismo e precisa ser um estágio acadêmico. No entendimento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), trata-se de uma ação também essencial à qualificação da formação profissional.
Nestes tempos que se enfrentam os ataques à regulamentação profissional do jornalista, por meio do fim da obrigatoriedade de formação superior para o exercício do jornalismo, o estágio, com a concepção e nos moldes proposto pela Fenaj, destaca-se como mais uma ferramenta a explicitar a importância do ensino superior para a profissão do jornalista”. Também é importante ressaltar que, em instituições de ensino superior com maior estrutura, o estágio realizado no âmbito de suas atividades internas, deverá receber o mesmo tratamento que os realizados externamente, ou seja, haver uma estrutura que contemple professores supervisores e profissionais que orientem e acompanhem a atividade. O que acontece muitas vezes é que o aluno é jogado à sua própria sorte sem qualquer tipo de orientação ou quando há um acompanhamento, não é orientação, é realizado por pessoas desqualificadas.
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