Na pesquisa ou no cotidiano do pesquisador em Jornalismo – e também em outras áreas – se faz, inevitavelmente, uma análise dos jornais das cidades que se transita em muitas ocasiões e uma comparação com os jornais locais. As semelhanças entre as cidades de mesmo porte são inúmeras. No entanto se observa em algumas uma densidade, um jornalismo mais acentuado, ou seja, com mais periódicos em circulação e, cada um deles, com um expressivo número de páginas. Observando mais atentamente verifica-se que as informações inseridas nos jornais traduzem quase que completamente a sociedade local e o estado. O que acontece na cidade, no estado é material de publicação dos jornais ou dos principais deles. Evidentemente que há uma seleção e não só isso, mas também uma adequação à linguagem jornalística.
Diante desta observação, se pode concluir que o jornalismo sul-mato-grossense não apresenta esta mesma característica. Folhear os jornais locais não se percebe densidade no conteúdo, mas a ausência de muitas informações sobre fatos que ocorrem diariamente na cidade e no estado. As edições são precárias, em rápidos minutos a pessoa “lê” a edição completa, o que dá a sensação de que o jornal não contém informações relevantes ou como se diz: “hoje o jornal não traz nada”.
Pode-se deduzir que os os jornalistas têm um arquétipo de prepotência. Esta qualificação, infelizmente, é uma carga que os profissionais da área carregam consigo e, não só em Campo Grande, em todo país. E eles sabem perfeitamente disso. A qualificação aqui atribuída não deve servir para levantar qualquer tipo de rancor, mas para uma análise objetiva, clara e distinta. Muitos poderão justificar e argumentar que o jornalista empresário é quem denota esta peculiaridade no jornalismo local. E é importante que ninguém se mova exclusivamente pela proteção de seu corpo profissional, mas esteja atento às análises acadêmicas e populares que o produto que constróem enseja nos consumidores.
O jornalismo em Mato Grosso do Sul denota esta prepotência a partir do momento em que simplesmente ignora muitos fatos, acontecimentos da cidade e do estado. Esta atitude implica em edições descartáveis, não trazem informações suficientes ou as trazem de forma irrelevante. As editorias dos jornais, a quem são atribuídas a culpabilidade da situação, podem ser responsabilizadas, contudo não se exime o profissional jornalista que, ao captar as informações e o maior número possível delas, pode indicar de forma categórica, firme e profissionalmente, a relevância para publicação ou não.
Campo Grande tem fatos e condições para produzir jornalismo denso e de qualidade. As edições diárias poderão ter conteúdo se a prepotência em determinar qual notícia pode ou não ser publicada for banida. Muitos poderão afirmar ou questionar: deve-se publicar todas as coisas (porcarias) que chegam à redação pelos relises? Não, e este é um critério de cada editor. Há sim a necessidade de buscar, da reportagem, do “correr atrás da notícia”, do trabalho mesmo do jornalista.
No dia a dia se percebe o surgimento de fatos diários que são relevantes para a sociedade e, consequentemente a necessidade de conhecimento desta mesma sociedade que os jornais não publicam. A que se deve esse fato? Falta de gente, de profissionais, de estrutura de reportagem? Ou na realidade, deve-se ao desinteresse e ao entendimento pessoal do jornalista como juiz que pode determinar aquilo que pode ser publicado e aquilo que não merece ser publicado. De julgar aquilo que a sociedade necessita ou aquilo que não necessita. Que profissional é o jornalista para dizer o que a sociedade precisa?
A sociedade foi acostumada a ditadura da mídia. O que a mídia veicula tem valor, o resto não. Exemplo claro dessa característica está na exacerbância do colunismo social. Em nenhum local e em nenhum tempo o colunismo social tem tanta relevância como em Campo Grande; a ponto de jornais inteiros se dedicarem a este gênero jornalístico quase que exclusivamente e mais, distribuído gratuitamente. Não se observa essa mídia com olhar crítico, mas de forma complacente que acata tudo aquilo que ela impõe. O fato atinge diretamente os profissionais envolvidos colocando-os em pedestais, aqueles que conhecem a “verdade” e podem oferece-la, ou não, à população. Essa atitude, de forma alguma contribui para o desenvolvimento do jornalismo. Ao contrário, os jornalistas são servidores da população, aqueles que tem uma função muito importante, mas não dominadora.
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