As precariedades dos cursos de Jornalismo

Opinião | Quarta-feira, 21 de Setembro de 2011 - 17h19 | Autor: Gerson Luiz Martins


A partir da decisão do STF, em processo relatado pelo então presidente Gilmar Mendes, que determinou a desnecessidade da formação universitária específica para atuação como profissional em Jornalismo os cursos de graduação em jornalismo oferecidos pelas faculdades e universidades, principalmente nas instituições privadas, tiveram uma queda acentuada na demanda de alunos. Esse fato promoveu, nas IES (Instituições de Ensino Superior) privadas, uma reacomodação de disciplinas e, portanto, de professores. Nessa "reengenharia", se é que se pode chamar assim, muitos professores, independente de suas qualificações e competências, foram demitidos. As instituições converteram currículos, programas e, portanto, projetos pedagógicos numa colcha de retalhes, que se ajustam conforme a demanda de alunos, a oferta de disciplinas e as condições estruturais da escola.

Muitos cursos, nesta reengenharia, não tem começo ou fim, ou seja, o aluno pode ingressar no 5º semestre e concluir sua formação com a estrutura curricular do 1º semestre. O processo acontece para preencher as vagas ociosas nas turmas existentes e fazer sempre que os professores ministrem aulas para grupos de 30 a 40 alunos.

Em outros casos, se realizou modificações na oferta e perfil das disciplinas. Há cursos que descaracterizaram a formação universitária em Jornalismo e oferecem disciplinas que tratam muito de comunicação e suas transversalidades, mas nada de jornalismo. O profissional formado nesses cursos será um precário teórico de comunicação, mas sem qualificação profissional. Esse processo ocorre porque a instituição pretende, em primeiro lugar retomar o passado, infligir aos estudantes um base curricular da guerra fria e, em segundo lugar, poder atender a todos as classes dos cursos da área de comunicação, sejam jornalismo ou publicidade, duas faces totalmente opostas nas ciências da comunicação. A formação específica fica reduzida, assim como ocorria nas estruturas curriculares da década de 80 e o desenvolvimento profissional e da profissão fica comprometido.

As instituições que adotam algum desses dois modelos corroboram para que a demanda específica para os cursos de jornalismo fique comprometida, ou seja, como expressa o dito popular "é dar um tiro no próprio pé". As instituições privadas são as que tem interesse no retorno da exigência da formação universitária para o exercício profissional em jornalismo, no entanto agem em sentido contrário e expulsam os poucos estudantes que tem interesse na formação específica em jornalismo. Resultado disso é que os processos seletivos para vagas remanescentes dos cursos de Jornalismo da universidades federais estão entupidos de candidatos.

Ao adotar o modelo da base teórica da comunicação e de sua transdisciplinariedade ou, de outro lado, o modelo dos semestres ou turmas flexíveis, essas instituições promovem a descaracterização dos seus cursos e, em consequência, uma progressiva baixa demanda. Por isso, "um tiro no próprio pé". Esses modelos são permissivos porque demonstram que realmente não é necessário o "curso de jornalismo", esquecem o quanto isso compromete a profissão e desqualifica o mercado profissional com pseudojornalistas. Somente a busca individual, o interesse pessoal do estudante vai promover uma formação minimamente de qualidade e atenta às demandas da profissão nessas condições. O que há, portanto, são estudantes de grande potencial, competentes que constroem seu próprio caminho, percurso e dissimula, momentaneamente, as precariedades desses cursos de jornalismo.

É importante ressalvar que, em qualquer curso universitário, a apreensão do conhecimento e a qualificação do estudante lhe compete em pelo menos 50%. No caso dos cursos precários, essa competência amplia para 80%. Se verifica, nestes casos, competências individuais muito acima da média e o surgimento de profissionais jornalistas de muita habilidade e reconhecido valor.

É necessário observar que existe uma verdadeira desmontagem dos cursos universitários de jornalismo. Desmontagem que será, inadequadamente, substituída pelos cursos organizados pelas empresas jornalísticas, que fazem uma doutrinação dos estudantes conforme suas linhas editoriais, opções políticas. Essas características subvertem a verdadeira função do jornalismo. Pode-se afirmar que serão cursos de jornalismo mesclado com marketing, coisas completamente antagônicas. Os "jornalistas" egressos desses cursos são fantoches de suas linhas editoriais e conduzem a apuração no sabor e na ideologia dos interesses da empresas de mídia e dos políticos que apoiam. Qual será o futuro do jornalismo nessa situação?


www.gersonmartins.jor.br



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