Há mais de 10 anos se faz ciberjornalismo em Mato Grosso do Sul. Embora o estado tenha sido um dos pioneiros no jornalismo produzido na internet, é necessário lembrar que neste estado se produz jornalismo exclusivamente para internet nesse período. Esse registro é importante porque, na maioria, para não dizer na totalidade do país, o ciberjornalismo foi decorrente dos jornais impressos e, em algumas experiências, do telejornalismo. Só muito recentemente que inúmeros profissionais de jornalismo e empresários investiram, exclusivamente, em portais de notícias, fato decorrente das facilidades de criação dos portais jornalísticos com baixo custo e com tecnologias mais eficientes que facilitam a apuração, produção e publicação das notícias na internet.
A produção em ciberjornalismo não é algo simples, no entanto. A facilidade em se criar, publicar informações na internet, não está diretamente relacionada à qualidade de conteúdo. O que se percebe é um amadorismo exacerbado. Pessoas, investidores, empresários sem mínimo de conhecimento em ciberjornalismo se aventuram na criação de portais jornalísticos. Em jornalismo sempre afirmamos que o maior patrimônio é a credibilidade. Esses portais jornalísticos criados aos borbotões têm vida efêmera. No princípio capitalizam recursos do pode público entre governo do estado, prefeituras, Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais. Se tiver “boa lábia” manterá essa arrecadação de recursos públicos por um longo tempo, se não tiver e, de acordo com os altos e baixos da política, vai recorrer aos pequenos comerciantes locais. Neste caso, os portais se enchem de pequenas publicidades que poluem visualmente o sítio web.
Qualquer empreendimento jornalística deve estar relacionado diretamente a contratação de profissionais jornalistas qualificados no ensino superior específico em jornalismo. Fora disso se trata de uma aventura que possui dois lados; de uma parte sugam o poder público de recursos e se mantém por alguns anos; de outro lado fracassará em alguns meses. Nos casos que existem hoje, e temos mais de 150 portais de notícias no estado, a maioria, cerca de 90% replica ou requenta matérias dos portais nacionais. Há pouco difusão de notícias locais. O desconhecimento das características básicas do ciberjornalismo provocam portais que mais servem de justificativa para as verbas públicas do que informam. Neste caso, algumas perguntas devem ser respondidas, se se trata de qualificar os portais conforme a linguagem do ciberjornalismo. Qual portal de notícias em Campo Grande divulga informações em tempo real? Local! Outro problema dos portais de notícias. O leitor quer informação local. Se quiser saber de notícias nacionais vai para a Folha, G1, Estadão, entre os principais. Linguagem adequada! Por desconhecer as formas de redação jornalística específica, sim, pois cada suporte de mídia tem uma linguagem peculiar, às vezes imitam a TV, outras vezes a linguagem do rádio e, rotineiramente, a linguagem do jornalismo impresso. Nessa confusão, afinal, quem é o leitor dos portais de notícias? Com certeza, os portais têm esse dado. E ao que indicam os textos, recursos, formatos ignoram essa realidade.
Um outro dado que assusta, muitos portais reproduzem informações locais das agências meteorológicas sem olhar para a janela de sua redação. Na pressão de publicar informações a cada minuto, muitos reproduzem informações dos portais de difusão nacional. O ciberjornalismo é um formato de jornalismo local, em muitos casos, como a realidade nos Estados Unidos, hiperlocal. Nessa perspectiva, uma notícia publicada por um portal de notícias recentemente tinha o seguinte título, um exemplo da confusão entre o local e o global: "Dezenas de pessoas estão desaparecidas após deslizamento em Costa Rica". Para o público local, as atenções se voltam para o município de Costa Rica.
A linguagem jornalística em ciberjornalismo, o uso de títulos e outros recursos de texto merecem atenção e conhecimento das técnicas jornalísticas na internet. Um outro exemplo de problemas pode ser conferido em outra notícia publicada recentemente, como se entender este título: "Governador entrega identidade funcional para procuradores do Estado"? Há ainda problemas contumazes que denotam uma produção amadora, um desrespeito ao público leitor como o uso indiscriminado de “através”, “por conta” (sem referência a números), negação da negação (não houve nenhuma), entre outros.
O ciberjornalismo pode se caracterizar como o jornalismo do futuro, assim o respeito às suas características e a qualificação do processo produtivo é imperativo. Nesse aspecto, se pode incluir o leiaute, a multimedialidade, ou seja, o uso de recursos de vídeo e áudio. Um dos principais portais de notícias em Campo Grande tem um leiaute confuso, recheado de publicidade sem lugar definido. E no que diz respeito a multimídia, o leitor pode comprovar ao fazer comparações, por exemplo entre o portal Nominuto (www.nominuto.com), para citar um exemplo regional e os existentes em Campo Grande. Nesse aspecto, muitas vezes o leitor fica com a sensação de que o portal jornalístico parou no tempo, mas como se pode "parar no tempo" em Ciberjornalismo?
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