O município de Itapoá, situado no litoral de Santa Catarina, na divisa com o Paraná é uma localidade, pela posição geográfica, esquecida do roteiro catarinense e apêndice do Paraná. Na rota catarinense, Santa Catarina termina praticamente em Joinville, em direção norte com um resquício em Garuva, ultimo município antes de chegar no Paraná. Do Paraná, Itapoá é uma gleba, fundada e colonizada por paranaenses, o desenvolvimento começa com a invasão dos londrinenses. Por essa configuração, o município foi esquecido pelo governo de Santa Catarina e fora da jurisdição do governo do Paraná.
Para chegar em Itapoá é necessário entrar no Paraná para depois voltar a Santa Catarina. Há alguns anos, a principal estrada que atendia a cidade tinha, parte do trecho, pavimentada e conservada pelo governo do Paraná até hoje. Essa mesma situação ocorre com a oferta de energia elétrica. Embora distribuída pela Celesc, a energia chega do Paraná. Nos últimos anos Itapoá vivenciou um crescimento acentuado, seja do incremento das centenas de turistas paranaenses que adquirem imóveis na cidade e, mais recentemente, com a implementação de um porto para manipulação de contêineres que foi construído e será explorado pela empresa Battistella.
A cidade, assim como muitas no litoral brasileira, cresceu ao longo da orla. Assim se tornou uma cidade de grande distancias no sentido vertical, norte-sul, e de poucos metros no sentido transversal, leste-oeste. Da mesma forma que várias outras cidades, a exploração imobiliária irregular promoveu a construção de casas sobre a praia. Com a elevação dos níveis dos oceanos e em decorrência da construção do porto, viabilizado em local inapropriado, numa praia, sem qualquer encosta, o mar em Itapoá subtraiu a praia nas marés cheias e, ao longo dos anos, destruiu muitas residências construídas sobre a praia. Imóveis esses que, alguns, se encontram à venda por preços irrisórios. Essa mesma situação ocorre também no Rio Grande do Norte, em que várias praias foram privatizadas, com obras imobiliárias sobre a areia. A natureza, o mar não perdoa a invasão e, nos períodos de maré alta, cobra sua fatia de praia.
Itapoá é um munícipio novo, foi desmembrado de Garuva em 1989. Desde o seu surgimento como distrito do município de Garuva, os gestores eram personalidades ligadas a exploração imobiliária, fato que ocorre até os dias de hoje. Essa situação determina certas peculiaridades como a pavimentação das ruas, que somente existe na via principal, até pouco tempo denominada de Avenida Principal. O Google Maps ainda mostra esse nome. Essa mesma avenida, ou melhor, rua, pois não reúne as características urbanas de uma avenida, tem vários trechos em paralelepípedo e outros ainda sem pavimento. Situação que penaliza a população local e as centenas de pessoas que residem na cidade em períodos de temporada. Nas vias não pavimentadas, mais de 99%, há um grande prejuízo para a população. Ou seja, não bastasse o desgaste dos automóveis pela condições naturais do litoral, há uma deterioração maior ainda em consequência da situação das vias publicas.
O crescimento desta cidade jovem é completamente desordenado, embora a topografia e as condições geográficas permitam um planejamento urbano. Essa não é a prioridade no entanto. O interesse dos gestores públicos reside na exploração imobiliárias, sem atentar para o futuro próximo que transformará Itapoá num local insalubre, sem praias, sem urbanização, deficiente oferta de energia elétrica, precária rede de telefonia e péssimas condições de saneamento.
Os moradores eventuais de Itapoá e os turistas de temporada ainda enfrentam um outro problema, embora não situado na sede do município causa transtorno à população de Itapoá e Guaratuba. O semáforo localizado em Garuva provoca imensos congestionamentos no percurso de chegada ou de saída dessas duas cidades. Em período de temporada, verão, ocorrem congestionamentos de mais de 15 km em consequência desse semáforo que, comprovadamente, não melhora as condições para a população de Garuva.
Itapoá possui cerca de 25 km de praias, uma extensa área de mangue e vegetação típica de mata atlântica. Esse ecossistema está comprometido pela exploração imobiliária irregular, pela exploração do porto e um desmatamento desordenado em consequência da ausência de planejamento urbano. Uma cidade turística, jovem e com o futuro comprometido.
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