Jornal digital x diário digital

Opinião | Quinta-feira, 01 de Dezembro de 2011 - 18h12 | Autor: Gerson Luiz Martins


Um jornal digital, como muitos estudiosos preferem denominar as páginas webs dos jornais impressos, aporta uma característica importante: conteúdo. A preferencia pelo termo ciberjornal, ou ainda, entre os portugueses e espanhóis, cibermeios, retrata uma perspectiva mais ampla no que se produz de jornalismo na internet. Se se pensar que jornal digital pode ser o jornal impresso, pois afinal este veículo de comunicação também é produzido nos computadores da empresas jornalísticas e, portanto, também é um jornal digital. No cotidiano, jornal digital tem uma perspectiva mais ampla. Essa denominação foi corroborada pelo recente lançamento da nova página web do jornal O Globo.

A reforma do O Globo, assim como o G1, reúne praticamente todas as características do ciberjornalismo apontada no livro organizado pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online da UFBA, Modelos de Jornalismo Digital, publicado em 2003, organizado pelos pesquisadores Marcos Palacios e Elias Machado. Um jornal, uma mídia não pode ser considerado digital porque simplesmente está na internet. Sem qualquer problema, a página web do O Estado MS não é considerada ciberjornal ou jornal digital. Neste caso, há apenas uma transposição do conteúdo publicado na mídia impressa para o ambiente web. Segundo o mesmo texto do Grupo de Pesquisa da UFBA, esta situação caracteriza a primeira fase do desenvolvimento do jornalismo na internet. De outro lado, também, uma publicação que se resuma a textos ou a imagens, sem conteúdo, também não pode ser considerada ciberjornal.

Um diário digital, por sua vez, pode ser qualificado nos populares blogs. Em sua maioria se tratam de, exatamente, diários na internet. Um pequena quantidade oferece informações mais relevantes, de maior interesse público. Neste caso, em também uma minoria, utiliza recursos mais avançados de linguagem de internet, como sejam vídeos, imagens interativas e hipertexto, ou seja, aqueles textos que conduzem o leitor a mais informações a partir de uma palavra-chave.

O jornal New York Times, um dos pioneiros no ciberjornalismo, travou um verdadeira batalha para decidir como conseguir manter, consolidar e obter lucros com sua edição na internet. Depois de uma fase experimental com conteúdo aberto, acessível a qualquer leitor, o jornal bloqueou o acesso às notícias, liberadas somente para os assinantes. Nem a estratégia da liberação total de conteúdo, tampouco a de fechamento viabilizou o crescimento da versão na internet, ou da edição web. Recentemente este jornal, conforme estudos e a crítica, encontrou o caminho para resultados no empreendimento na internet. Para se obter resultados na internet não basta somente audiência, a mídia deve gerar ganhos para que possa se desenvolver. Assim, o New York Times encontrou um novo caminho que mistura acesso livre para algumas notícias e liberado parcialmente para outras. Qual foi o diferencial para que esse modelo pudesse se desenvolver, ou seja, ter boa audiência e gerar lucros para a empresa jornalística? A resposta é “conteúdo de qualidade”. Ou seja, todas as pessoas estão dispostas a pagar por informação de qualidade.

A qualidade da informação se produz com uma apuração adequada, ética, qualitativa realizada por profissionais gabaritados e qualificados academicamente. Importante destacar que conteúdo não está restrito às imagens. Imagens são efêmeras quando não há conteúdo. O ciberjornal que se baseia em imagens não terá prosperidade, permanecerá, em alguns casos, como mero suporte de outros mídias no contexto das empresas jornalísticas. O leitor busca informação com conteúdo, de qualidade. E conteúdo se produz com equipes qualificadas e trabalho exaustivo de apuração. Conteúdo se faz e organiza, para o ciberjornal, com produção multimídia. Esse é o caso da reforma produzida no ciberjornal O Globo, lançada no domingo dia 13 de novembro. Com conteúdo de qualidade e multimídia não haverá dificuldade em se consolidar o ciberjornal. A empresa que o produz terá seus ganhos, os profissionais – jornalistas formados em cursos universitários de jornalismo – serão adequadamente remunerados e, mais, terão possibilidades de qualificação acadêmica e profissional para que seu trabalho seja valorizado e suas atividades acompanhem o desenvolvimento do ciberjornalismo.

A empresa jornalística que não tem clareza da necessidade de produzir conteúdo e conteúdo de qualidade vai permanecer deficitária, empregar estagiários e se submeter a publicar blogs ou imagens na internet. É necessário valorizar e qualificar os profissionais egressos dos cursos de jornalismo, assim como estabelecer, com estes cursos, parcerias que promovam o desenvolvimento do jornalismo.


www.gersonmartins.jor.br



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