O Congresso Nacional promove a cada ano ações que levam ao descrédito da população. Assim como o recente aumento nos polpudos salários de deputados e senadores, a indicação de deputados despreparados para algumas funções induzem a população a considerar a maior casa legislativa do país uma grande e insensata brincadeira. Isso é muito perigoso. Afinal, o Congresso Nacional representa a legítima democracia em qualquer país. Sem o Congresso, a população fica refém de possíveis ditadores ou reis absolutos. Não obstante a todas as falcatruas, desmandos, ingerências, corrupção, o Congresso Nacional, assim como as casas legislativas nos estados e municípios, representam a garantia de um sistema democrático onde prevalecem o debate das ideias, projetos e, principalmente, a fiscalização do poder executivo.
Será interessante verificar, em primeiro lugar, esta função das casas legislativas, ou seja, a fiscalização do poder executivo. Essa função, primordial, causa perplexidade, pois a maioria das casas legislativas como as câmaras municipais e as assembleias estaduais estão reféns do poder executivo, dos prefeitos e governadores. Na construção do projeto político do executivo é imperativo ter o apoio do legislativo para que os projetos, as leis sejam aprovadas conforme o perfil traçado pelos governadores e prefeitos. Para isso necessitam “controlar” os deputados e vereadores, respectivamente. Todos os meios, lícitos e ilícitos, são utilizados para isso. No pensamento dos governadores, prefeitos e até mesmo do executivo federal, conseguir a tal maioria será condição básica para conseguir “governar”. Governar entre aspas, pois a palavra é usada incorretamente. Governar de fato ocorre com ou sem a maioria no poder legislativo. Um verdadeiro administrador saberá usar os prós e contras para implementar um projeto político que atenda as demandas da população. Fora disso, será apenas interesse particular.
No entanto, não é o que ocorre. O administradores do poder executivo mantém, literalmente nas mãos, a atuação dos senadores, deputados e vereadores. Esses acordos são mantidos por meio de barganhas onde o pode executivo, gerente do poder econômico, da receita dos impostos autoriza verbas para projetos dos membros do poder legislativo e ainda manipula cargos nos órgãos públicos que venham a favorecer, de forma privada, a busca de ganhos políticos e econômicos de deputados e vereadores.
Assim, as casas legislativas se tornam circos sob a visão crítica da sociedade. Até mesmo o eleitor de Francisco Everardo Oliveira Silva tem claro essa situação. Será que esse eleitor concordaria com a indicação do deputado para a Comissão de Educação da Câmara Federal? Na formação deste Congresso há ainda a indicação de Paulo Maluf para a Comissão da Reforma Política. O que esperar do trabalho de Maluf nesta Comissão? Afinal, que Congresso temos na atual legislatura? Acordos políticos entre deputados federais, senadores, deputados estaduais e vereadores transformam as casas legislativas em um verdadeiro circo, e que os verdadeiros trabalhadores circenses não se ofendam com insensata comparação.
A população que votou, escolheu esses senhores como legítimos representantes na condução do país num segundo momento de reflexão fica perplexa com os conchavos e falcatruas em prol do interesse privado. Se de um lado, essa mesma população afirma “que se vão os anéis, mas fiquem os dedos”; de outro lado fica estarrecida e se sente impotente para resguardar seus direitos. A fase do “votar em político que rouba, mas faz” é coisa do passado. O voto da sociedade em candidatos populistas, como os mencionados acima, é reflexo da indignação que há muitos anos perpassa a coletividade. O descrédito em políticos tradicionais, leva a escolha do bizarro, do inusitado para “bagunçar o coreto”. Essa atitude conduz a outras piores. Que eleitor de Francisco Everardo poderia imaginar que ele seria indicado para a Comissão de Educação? Que eleitor de Francisco Everardo colocaria a educação dos seus filhos nas mãos do deputado Tiririca?
A população da periferia ou mesmo do centro, os revoltosos, os irônicos que, aos milhares, votaram no deputado Francisco Everardo tem plena consciência, lucidez sobre os planos de educação, saúde, alimentação e moradia para sua família. No entanto, esses eleitores, desgastados com as “autoridades políticas”, optam pelo seu trabalho, não obstante os obstáculos impostos pelos desmandos políticos, pessoal de garantir o “pão de cada dia”. O descrédito político é muito acentuado. É preciso que a sociedade, que o poder judiciário e o próprio poder executivo e legislativo observem o aumento vertiginoso das abstenções, do voto nulo e do voto em branco a cada eleição. Esses números revelam uma situação crítica e perigosa para a democracia no país.
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