As recentes manifestações populares, principalmente de jovens demonstraram uma nova força que mobiliza as pessoas. Neste momento centenas de teóricos, cientistas da comunicação se debruçam entre livros, observações e muitas leituras para entender os fatos das últimas semanas no Brasil, que não é novo, ocorreu em outros países, talvez com menor intensidade dadas as proporções continentais deste país. Por isso, a atenção do mundo para o Brasil neste momento.
O pano de fundo que moveu milhares de jovens, adultos, idosos e até mesmo crianças está claramente identificado. Além do sentimento generalizado de insatisfação provocado por uma corrupção crônica, pela ineficiencia do estado, pela precariedade dos serviços públicos e por uma carga de impostos cada vez mais ampla e, portanto, pesada, a mobilização se processou no reconditos das mídias sociais, das redes sociais como muitos preferem designar. É possível, às pessoas, ler notícias, saber dos fatos, a cada dia, por meio do Facebook ou do Twitter, principalmente. Esses aparatos, em especial o Facebook, conseguiram mexer com as pessoas. É interessante observar pessoas que não são da era do computador, que possuem dificuldades para digitar, teclar um correio eletrônico e que agora, cotidianamente, publicam informações nessa mídia social. Sim, mídia, porque se tornou um meio de comunicação de grande parte da população.
Pesquisa divulgada nesta semana pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), a oitava que trata das TICs em domicílios, apontou um crescimento significativo do acesso à internet no perfil doméstico. Segundo a pesquisa, o percentual de brasileiros maiores de 10 anos que são usuários de internet ficou em 49%, superou, portanto, a quantidade daqueles que nunca utilizaram, 45%. A pesquisa apontou ainda que o domicílio, acesso doméstico, é o principal local de conexão.
Um outro dado relevante que a pesquisa aponta diz respeito ao acesso a internet em dispositivos móveis. De acordo com a pesquisa do Cetic.br, o aumento da presença de tecnologias móveis cresceu em 2012, a proporção de usuários de telefone celular que acessam a internet alcançou 24%. O gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa ressalva que “a frequência de uso diário e a velocidade da conexão vem crescendo de forma significativa entre os usuários de internet no Brasil”. E destaca que “isso implica oportunidades para o uso de novas aplicações”. O quadro apontado pelo gerente do Cetic.br denota as perspectivas no hábito de usar as mídias sociais. Pessoas que, como mencionado antes, não seriam consideradas parte do grupo social “geração internet”, adquiriram o hábito e permanecem várias horas em contato com amigos, parentes por meio do Facebook, principalmente. Constata-se que, entre essas pessoas, perfis que não possuem o ensino fundamental completo, têm dificuldades de escrita e, no entanto, usam esta mídia social para divulgar suas ideias, suas crenças, suas expectativas, além de disseminar opções políticas ou religiosas, como é o caso dos protestos que se espalharam pelo Brasil nestes dias.
A constatação do poder das mídias sociais advém, ainda, do cotidiano da educação formal. As escolas poderão eliminar os seus quadros de avisos. É muito mais eficiente publicar, divulgar ações, festas, calendário de provas, exposições e outros assuntos pelo Facebook. Os alunos acessam diariamente esta mídia social, este recurso, seja para suas relações sociais, principalmente, seja para as atividades da escola. Conseguem produzir trabalhos escolares em equipes e de forma remota. Toda informação escolar publicada é imediatamente visualizada pelo conjunto dos estudantes, mesmo que essa informação não seja considerada relevante num primeiro momento.
Em outros momentos, muito se discutiu, entre os pesquisadores, do real poder das redes sociais e se relativizou, o entendimento era de que esses recursos seriam complementares ou acessórios no processo de socialização virtual. Os fatos recentes demonstraram que há sim uma potencial mobilizador, difusor e “doutrinador” das redes sociais. E não entenda-se aqui doutrinador como um processo de manipulação das consciências, mas elemento que influencia e incentiva reflexões e, de forma contundente, ações. Talvez este resultado seja o potencial do processo que se verá incrementado nos próximos anos. Governos tremei! Se não censurarem a internet, como pretendem, as próximos eleições serão mais realistas!
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