Plágio como câncer do jornalismo

Opinião | Sexta-feira, 29 de Junho de 2012 - 16h14 | Autor: Gerson Luiz Martins


A atividade jornalística é, essencialmente, uma atividade de produção criativa. Em geral, as profissões da área de comunicação tem na criatividade um de seus fundamentos. Por isso, é comum que os ingressos dos cursos da área de comunicação, como os cursos de Jornalismo ou de Publicidade e Propaganda, tenham um forte potencial criativo. De forma contumaz se afirma que o campo da publicidade é dos criativos e que a criatividade nessa profissão é fundamental para o trabalho. Pode-se ir além e afirmar também que no jornalismo ocorre a mesma situação.

Observa-se um jornalista na sua tarefa diária de produção de uma notícia. No cotidiano desta tarefa cabe ao jornalista conhecer, verificar e checar os fatos para que possa traduzir isso para o conhecimento e compreensão dos consumidores de notícia. No entanto, este ato não é mecânico, automático. Exige dos jornalistas qualificados em curso universitário de jornalismo um conhecimento da política, da economia, da história, etc, para que possa compor, produzir seu texto. Os diversos conhecimentos isolados não informam o leitor, mas esses mesmos conhecimentos somados e um bom texto, fruto da criatividade profissional, produz reportagens de excelente qualidade.

Na era da internet 2.0 é muito comum a prática do Crtl C, Crtl V, ou seja, do copia e cola, discutido em artigo publicado neste O Estado MS (24/2/2011), que corrói o processo de produção jornalística. Da mesma forma, o jornalista, neste caso um pseudojornalista, deve ser banido do exercício profissional. Este "profissional" se transforma num câncer que corrompe o processo e leva consigo a empresa jornalística em que atua. Em outras palavras, credibilidade é uma virtude condicional do bom jornalismo.

O câncer do plágio ou do “copia e cola” se disseminou, principalmente, em duas situações. Nos ciberjornais e sua prática de produzir notícias sem a devida e necessária apuração, o chamado jornalismo de gabinete ou jornalismo sentado como preferem alguns autores, em que inúmeros cibermeios vivem a custa de outras mídias, como sanguessugas que reproduzem erros e denuncias vazias. No outro lado, estão as monografias, dissertações, teses que são comprados na indústria crescente dos trabalhos acadêmicos. Não há como julgar qual das situações fazem mais mal à sociedade. Sem duvida que o plágio no jornalismo causa um mal imediato, pois atinge diretamente as pessoas e tem um fluxo de destruição muito mais rápido.

O mal que estes procedimentos implicam ainda está longe de ser resolvido. As instituições que deveriam fiscalizar a atividade jornalística não possuem estrutura suficiente para avaliar, diariamente, o que se publica. Assim, cabe ao leitor esta tarefa e, principalmente, aos editores das empresas jornalísticas. Ponto. Comprometimento número 1, porque muitos editores são cúmplices no plágio ou no “copia e cola”. Do lado acadêmico, o mesmo ocorre com muitos orientadores.

A situação de plágio se ampliou com o surgimento e incremento das redes sociais na internet. Dezenas, centenas, talvez milhares de pessoas compartilham, diariamente, informações que não conhecem as fontes e das quais não possuem dados ou parâmetros suficientes para avaliar se a informação é verdadeira ou uma grande mentira. Nesse aspecto, as redes sociais, principalmente Facebook e Twitter se tornaram grandes difusores da verdade falsa!

No âmbito desta reflexão se pode discutir até que ponto a edição das fotos, no jornalismo, é correta! Ou ainda, até que ponto é correto produzir reportagens, em televisão, com câmeras escondidas! A Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj, na ultima revisão do Código de Ética dos Jornalistas, realizada em agosto de 2007, faz menção a esta situação.

Infelizmente, no jornalismo, a pratica do plágio começa, inúmeras vezes, na própria escola. Estudantes sob a pressão da produção da notícia nos jornais laboratoriais copiam muitos parágrafos das reportagens publicadas em outros jornais, sem qualquer citação das fontes.

Uma espécie de Conselho de Leitores deve ser prática contumaz nas empresas jornalísticas, a exemplo do sistema de avaliação das notícias implantado pelo O Estado MS, disponível ao leitor na página 2, abaixo. Aliado a esse procedimento, é necessário a instituição do crítico do jornal, conhecido como Ombudsman. Até hoje, somente a Folha de S. Paulo e o Diário da Manhã (Ponta Grossa, PR) possuem um profissional para a tarefa, mas sem a isenção suficiente e necessária para realizar seu trabalho.


www.gersonmartins.jor.br



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