Prêmios em Jornalismo

Opinião | Terça-feira, 07 de Junho de 2011 - 22h41 | Autor: Gerson Luiz Martins


Há alguns dias uma instituição entregou o mais recente conjunto de prêmios aos profissionais de jornalismo valorizados em jornalismo impresso, telejornalismo, radiojornalismo, fotojornalismo, ciberjornalismo e projeto experimental em jornalismo; este último produzido por estudantes de curso universitário de jornalismo. Sem qualquer dúvida, esse conjunto de prêmios é um momento muito importante para os profissionais, principalmente entre os jornalistas. Há muitos prêmios, na área de comunicação, para os profissionais da publicidade, mas, até bem pouco tempo, quase nenhum para jornalistas. Para os profissionais da propaganda, os prêmios se tornaram tradicionais e são instrumentos motivadores fortes para a melhoria, para a qualificação da propaganda brasileira. Como é do conhecimento de todos, o mais famoso, mas não o principal, é o Prêmio Profissionais do Ano, há mais de 20 anos promovido pela Rede Globo.

Um fato é preciso ficar muito claro. Uma coisa é jornalismo, outra coisa é publicidade. Mesmo pertencentes a área de Comunicação – e aqui é também importante esclarecer que é um engodo um curso universitário ser denominado, designado como curso de Comunicação Social, pois esta é uma área de conhecimento, mas não uma profissão, além do fato que a expressão “comunicação social” é, no mínimo, inadequada, ou será que alguém conhece alguma comunicação que não seja social? Deixe essa reflexão para outro momento.

Um prêmio em jornalismo deve valorizar o objetivo social, o serviço, a veracidade, a difusão dos fatos de forma equilibrada, isenta, como um serviço público da maior importância para a sociedade contemporânea. Mesmo que o prêmio em jornalismo objetive atender e promover determinadas áreas da sociedade, como tecnologia, agricultura, economia ou outras, sempre as matérias, os produtos que concorrem a esses prêmios devem se pautar pela difusão correta dos fatos. Para os publicitários, não obstante a questão ética que envolve a propaganda, o interesse é promover um produto. Quanto melhor e mais eficaz é a promoção deste produto, melhor qualidade terá o anúncio.

No caso do jornalismo a situação é diversa. Em recente comissão julgadora de um prêmio de jornalismo, os participantes se pautaram, corretamente, pela essência do jornalismo, pela ética jornalística e pelos princípios do jornalismo. Escolheram ou elegeram matérias que difundiam informação de serviço à população conforme os critérios mais elementares da produção jornalística, quais sejam a profunda apuração, investigação, amplo recurso às fontes, edição equilibrada, ética e uma difusão, pelas mais diferentes mídias, com o máximo de recursos que o suporte midiático oferece. No processo de julgamento de um prêmio de jornalismo é essencial que as matérias em disputa, em avaliação se pautem por esses princípios, primeiramente. Na entrega do prêmio de jornalismo recentemente realizada em Campo Grande, um fato chamou a atenção. A matéria que teve maior pontuação fez menção à instituição promotora do prêmio. Esse fato circunscreve, nas futuras edições do prêmio, um indicativo para as “matérias vencedoras”. Diferentemente da propaganda, não pode acontecer de uma matéria jornalística concorrente num prêmio ser qualificada porque mencionou a instituição promotora. Não se trata de, por meio do texto jornalístico, promover a instituição; em outras palavras, jornalismo não é publicidade e, portanto, não deve publicizar a instituição que organiza ou patrocina o prêmio. Perde-se todo o sentido de valorização do jornalismo e do jornalista. Na história dos prêmios em jornalismo – Prêmio Esso no Brasil ou Prêmio Pulitzer nos Estados Unidos – está muito claro na memória dos participantes, dos profissionais, dos pesquisadores, dos professores e estudantes de jornalismo que, em qualquer momento, as matérias fizeram publicização da companhia de petróleo ou da escola de jornalismo de Columbia ou do próprio New York Times.

De certa forma, é preocupante se pensar que o Prêmio Embratel de Jornalismo tenha vencedores somente aqueles jornalistas que promoveram a empresa em suas matérias; é preocupante pensar que o Prêmio Sebrae de Jornalismo tenha vencedores matérias que mencionem projetos desenvolvidos pelo Sebrae, e assim por diante com as perspectivas da Fiems ou da Famasul. Ainda sob essa reflexão, é também questionável que membros de comissões julgadoras, devida e corretamente remunerados para essa atividades, valorizem apenas as matérias em que a instituição que banca seus pró-labores estejam promovidas. Isso pode ser qualquer coisa, provavelmente publicidade, mas nunca jornalismo. As instituições que promovem esses importantes prêmios, os sindicatos de jornalistas e as escolas universitárias de jornalismo devem fazer o papel de guardião da ética, da equidade e da valorização do verdadeiro jornalismo.



www.gersonmartins.jor.br



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