Hoje se vive boas épocas em valorização do trabalho jornalístico, sob o ponto de vista dos prêmios, pois do outro lado, dos salários, nunca o jornalista foi tão mal remunerado. A avalanche de pseudojornalistas e o ingresso prematura de estudantes no mercado profissional, submeteu a classe a padrões sofríveis de remuneração. Um fato, entre os jornalistas profissionais, do conhecimento de todos é a desunião da classe, que, apesar de todas as defesas que o jornalismo faz dos profissionais de outras áreas, não acontece com a classe profissional do jornalista. Esse fato provoco uma desqualificação salarial contraditória à importância do jornalismo para a sociedade.
Esta reflexão não trata das questões salariais, mas da valorização do jornalista por meio dos prêmios, felizmente cada vez mais frequentes. No artigo publicado na semana passada, houve menção de dois importantes e paradigmáticos prêmios de jornalismo, no Brasil o prêmio Esso e nos Estados Unidos o prêmio Pulitzer. Essas duas experiências são históricas porque se consolidaram de forma séria e, principalmente, tendo como base e princípio inquestionável a ética jornalística, a razão do existir o jornalismo. No texto da semana passada, se afirmou que jornalismo não é publicidade. Isso pode parecer elementar, mas, no cotidiano, se busca confundir o leitor e se publica falsas noticiais com aparência de fatos verdadeiros. Até mesmo campanhas publicitárias usam desse artificio, como por exemplo quando travestem um anúncio, nas páginas internas do jornal, com aparência de noticia. O próprio Conar regulamentou essa prática e estabeleceu que esse formato de publicidade deve ter uma identificação clara, acima do espaço, com os dizeres "Informe Publicitário".
Esse cuidado, critério deve ficar explicito nos regulamentos dos Prêmios de Jornalismo. Critério que rejeite ou desclassifique a inscrição da matéria jornalística que, em algum momento, promova ou mencione a instituição promotora do Prêmio. Os objetivos do Prêmio, os seus princípios devem ser estabelecidos na abordagem ao tema trabalhado ou de interesse da entidade, como por exemplo no caso da Famasul o desenvolvimento da agricultura, da Fiems o desenvolvimento da indústria, ou do Sebrae o desenvolvimento do pequeno empreendedor. E se pode dizer que o jornalismo é rico nessas e em outras áreas ou editorias, sem necessidade de mencionar explicitamente a entidade promotora.
A criação de prêmios para jornalistas é uma via de mão dupla muito importante. Valoriza o trabalho do jornalista, incentiva pautas melhor produzidas e proporciona difusão de informações de interesse das entidades sem cair no merchandising dos relises das assessorias de imprensa ou de comunicação. É o trabalho do jornalista que está na redação que mostra à sociedade fatos que não estão no cotidiano do "agenda setting" ou do "newsmaking". Em outras palavras, a promoção das entidades deve ser realizada pelas assessorias na área de comunicação, nunca pelo jornalista das empresas jornalísticas. Isso se torna um problema ético, pois confunde o leitor, o cidadão que, muitas vezes, não percebe quando uma informação é jornalismo, quando essa informação é publicidade.
Sem qualquer duvida, o interesse dos administradores das instituições é verificar, ver estampado nos jornais, telejornais, ciberjornais o nome de sua entidade, sem estar vinculado a problemas, denuncias, reclamações e outros fatos negativos. Sem qualquer duvida é importante que o jornalismo também se paute pelas notícias positivas, que os jornais não vivam apenas de manchetes de catástrofes ou de corrupção política entre outros assuntos.
Outro fator importante dos prêmios trata de melhorar os salários dos jornalistas premiados, oferecer equipamentos mais modernos e adequados, constituir equipes de produção jornalística qualificadas. A "marca" da empresa jornalística também ganha e cresce a credibilidade entre os leitores e assinantes. Que jornal não gostaria de ter em seus quadros jornalistas detentores de um prêmio Esso? As empresas jornalísticas devem ser sensíveis a esta nova situação e qualificar as condições de trabalho de suas equipes. Há, sem dúvida, um ganho, uma lucratividade para as empresas. Entre os publicitários, as agências de propaganda disputam "a tapa" profissionais premiados. Isso ainda não ocorre nas empresas jornalísticas. E um dos fatores para que isso não ocorra está exatamente no fato que os jornais não podem dispender profissionais para pautas específicas. Aí está um dos erros dos prêmios que, inadequadamente, privilegiam "matérias merchandising". Se os prêmios valorizassem o verdadeiro jornalismo, todas as matérias publicadas seriam passíveis de participam neste ou naquele prêmio.
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