Aconteceu, entre os dias 3 e 5 de novembro último, no Rio de Janeiro, na Universidade Federal (UFRJ), o 9º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). O tema do evento deste ano foi “Jornalismo e mídias digitais” e teve a conferência de abertura realizada pelos pesquisadores John Pavlik da Universidade Estadual de New Jersey (EUA) e Marcos Palácios da Universidade Federal da Bahia. Entre as várias palestras, mesas de debates e grupo de trabalho, representados pela Comunicações Coordenadas e Individuais, é importante destacar o debate realizado no Painel “A pesquisa e o ensino de jornalismo digital no século XXI”, que teve a participação do pesquisador espanhol Ramón Salaverría e do pesquisador brasileiro Elias Machado.
No artigo da semana passada se fez uma reflexão sobre a qualificação dos jornalistas para o trabalho nos ciberjornais, em Campo Grande representados pelo Campo Grande News, Correio do Estado, Midiamax, Notícias MS, entre outros; destacou-se que o ciberjornalismo tem uma linguagem própria, complexa e que é a área que mais cresce, seja no âmbito da oferta de trabalho para os novos jornalistas, seja pela demanda da sociedade que tem acesso facilitado às notícias, por meio dessa mídia. A reflexão sobre a qualificação para o ciberjornalismo foi tratada de forma exaustiva pelos pesquisadores no Encontro da SBPJor, principalmente no Painel sobre o ensino de ciberjornalismo.
Os encontros nacionais da SBPJor comprovam a consolidação da pesquisa em jornalismo no Brasil, seja na quantidade de trabalhos produzidos, seja na qualidade das pesquisas e ainda na linha histórica que essas pesquisas configuram. Há, no país, pesquisa científica específica em jornalismo há mais de 50 anos, consolidada e perene nos últimos 20 anos. Neste ano forma inscritos 198 trabalhos individuais e desses, 137 receberam aprovação dos pareceristas e avaliadores. Além disso, foram inscritas 12 comunicações coordenadas, compostas por um média de seis trabalhos de pesquisa em cada sessão. Esses números demonstram a maturidade e a consolidação da pesquisa científica em jornalismo no Brasil, números que o colocam entre os principais países que desenvolvem ciência do jornalismo, como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Austrália. Em abril de 2012 acontece um outro evento de pesquisa científica em jornalismo, o 10º Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de Jornalismo, na Universidade Federal de Uberlândia, entre os dias 27 e 29.
Professores, pesquisadores, profissionais do jornalismo precisam se conscientizar das transformações que perpassa a atividade, a profissão. Essas mudanças devem ser, primeiramente, discutidas e implementadas nas faculdades de jornalismo, na formação dos novos profissionais. Também devem ser motivo de debates promovidos pelas empresas jornalísticas. A atividade jornalística vive um momento decisivo. A internet, a economia mundial pressiona para que haja mecanismos e formatos mais eficazes para que a informação chegue até as pessoas. O crescimento da internet como meio privilegiado para acessar as informações obriga as empresas jornalísticas e repensarem seus modelos de negócios e aos profissionais a repensarem seus métodos de trabalho.
O pesquisador espanhol Ramón Salaverría, em sua participação no Encontro da SBPJor afirma que as universidades estão formando profissionais ultrapassados. Segundo Salaverría, “a maioria das escolas do mundo forma hoje jornalistas desatualizados”. É necessário reformular programas. De outro lado, o pesquisador brasileiro Elias Machado disse que “o professor deveria ser pesquisador da área que ensino para que não haja dissociação do ensino e da pesquisa” e que “as escolas de jornalismo são voltadas para a formação de profissionais para os grandes meios”. Machado ressalta que “deve-se formar ‘formuladores’ e não reprodutores, capazes de fazer diagnósticos, propor soluções e executar projetos”. Elias Machado propôs uma prática de pesquisa integrada às redes de pesquisa, para utilizar novas metodologias internacionalizadas.
Na opinião dos dois pesquisadores, a formação dos novos jornalistas deve ser integrada, pois não há jornalismo compartimentado. Os jornalistas profissionais podem atuar em diversos meios ao mesmo tempo. Precisam estar preparados. Os cursos tradicionalmente formam jornalistas para atuar no jornalismo impresso, onde há menos oportunidades de trabalho. E quando se deparam com as atividades de ciberjornalismo, não estão devidamente preparados.
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